domingo, 26 de junho de 2011

TRIÂNGULO DOS KALUNGAS

O Triângulo dos Kalungas é um circuito de caminhada que conecta, por trilhas,  três regiões habitadas no território quilombola da borda norte da Chapada dos Veadeiros: o Engenho, o Vão do Moleque e o Vão de Almas. Em cada uma destas três regiões existe uma montanha  emblematica: o P1414 (nas proximidades do Engenho 2, e ponto culminante do território quilombola, com 1414 metros de altitute, sem nome local ); o Morro do Moleque (no Vão do Moleque) apelidado por nós de Dedo do Moleque; e o  Morro do Moleque do Vão de Almas, conhecido por nós como P1091 (pois tem 1091 metros de altitude) .   As três montanhas foram escaladas por nós anos antes.  Idealizamos este trekking quando atingimos o cume do P1414 e visualizamos as duas outras montanhas.  
Este relato conta a primeira expedição para completar o circuito, com a participação de:  Andrea Zimmermann,  Fabio França,  Aldem Bourscheit  e Ticiana Pontes.

Dia 0 – 17 de junho de 2011

Saímos de Brasília às 21h30 rumo à Cavalcante onde fomos muito bem recebidos na Pousada Aruana para o pernoite.  A pousada é ótima e tem uma café da manhã maravilhoso.  Vale a pena se hospedar lá quando for a Cavalcante: www.aruanacavalcante.com.br

Dia 1 – 18 de junho de 2011
Itinerário: P1414  - proximidades da cachoeira do Curriola
Distância percorrida: 17km
Tempo de caminhada:  7 horas


Deixamos o carro próximo ao P1414.  A trilha se inicia próxima à sede de uma fazenda ao cruzar um córrego de águas cristalinas e uma vereda.  A paisagem marcou um belo começo de caminhada com campos rupestres floridos que cobriam as serras ao redor.  Durante todo o dia, encontramos trilhas seguindo para diversas direções, convidando-nos a uma navegação atenta.
Seguimos até a cachoeira do Curriola que estava com um belo poço, mas quase sem água na queda.  Pretendíamos dormir nos arredores da cachoeira, mas como não achamos um bom camp site,  seguimos três quilômetros adiante e acampamos entre serras próximo a uma nascente.

Dia 2 – 19 de junho de 2011
Itinerário: Camp 1 – Vão do Moleque – Raizama
Distância percorrida: 25km
Tempo de caminhada: 8 horas

Começamos a caminhar as 8h da manhã com o sol mostrando que o dia seria bastante quente.  Descemos a serra para o Vão do Moleque por uma trilha sinuosa na mata que seguia muitas vezes por um veio onde provavelmente corre água na chuva. Na descida, avistamos algumas vezes o  Dedo do Moleque.  


Já no Vão,  caminhamos por uma área plana até chegarmos na casa da Dona Valeriana na metade do dia. A partir daí, tivemos uma penosa caminhada pela estrada de terra,  sem passar nem um carro para nos dar uma carona.  O sol de meio dia no lombo por duas horas estava nos consumindo até que chegamos à casa do Martinho e da Santina (que serviu de campo base para as  ascensões  do Dedo do Moleque).  Aí foi só alegria!  Matamos a saudade dos velhos amigos,  comemos uma rapadura com mandioca e amendoim deliciosa preparada pela Santina e o Martinho ainda se dispôs a nos acompanhar carregando as mochilas no cavalo até o alto da Serra de São Pedro que dá acesso ao rio Paranã. 

Com a temperatura mais amena,  seguimos mais um trecho pela estrada e, no pé da serra, alcançamos uma trilha bem marcada repleta de pau santo florido e lindas vistas do Morro do Moleque.  
Com o cair da noite,  chegamos a uma área mais plana no alto da serra, conhecida como Raizama, onde acampamos no quintal  de um casal de Kalungas.



Dia 3 – 20 de junho de 2011
Itinerário: Raizama  – Rio Paranã
Distância percorrida: 8 km
Tempo de caminhada: 3 horas

Nosso terceiro dia foi curto.  Saímos às 8h45 da casa do Antônio, com um burro carregando as mochilas.  Atravessamos a Serra de São Pedro para chegar a uma praia de areia branca na margem do rio Paranã.  O lugar é conhecido como “Remansão”.  Decidimos passar o dia curtindo a praia e a frequente visita de dois botos que vivem naquelas águas. 

Dia 4 – 21 de junho de 2011
Itinerário: Rio Paranã-P1091
Distância percorrida: 23 km
Tempo de caminhada: 8 horas


Para compensar a curtição de ontem, acordamos às 4h30 e começamos a caminhar 6h, antes do sol nascer.  Essa estratégia foi ótima, pois aproveitamos as horas mais frescas do dia e conseguimos avançar bastante. 



Depois de cerca de uma hora de caminhada, avistamos a primeira vez o P1091 com a certeza de que o Triângulo dos Kalungas agora estava quase completo.   Caminhamos até as 11h30 e decidimos parar na beira do córrego Gameleira para esperar as horas mais quentes do dia passarem. 
Recomeçamos nosso percurso às 14h e caminhamos rumo ao P1091, por uma trilha onde passava uma antiga estrada.  A trilha passa próximo à base da montanha, facilitando um ataque ao cume em uma próxima vez. Por volta de 17h, montamos acampamento na beira do córrego Capivara (no mapa topográfico, está identificado erroneamente como rio Maquiné). 



Dia 5 – 22 de junho de 2011
Itinerário: Acampamento no córrego Capivara – Engenho 2
Distância percorrida: 22 km
Tempo de caminhada: 9 horas

Depois da avaliação do estado da equipe (uma pessoa com joelho machucado e outra com os pés cheios de bolhas), decidimos contratar dois kalungas e seus burros para carregar as mochilas no último dia de caminhada.
Saímos 7h30 da manhã.  Desviamos da trilha que originalmente havíamos marcado no mapa e inserido no GPS pois, segundo o rapaz que estava conosco,  por lá os cavalos não conseguiriam seguir.  No trajeto para o Engenho 2,  atravessamos o córrego Capivara várias vezes em trechos inviáveis de passar sem molhar os pés.  A trilha tem um longo trecho de aproximação da serra e depois mais um longo percurso de subida  por mata seca e um terreno pedregoso.
Chegamos ao Engenho 2 às 16h.  O Paulino dos deu uma assistência ótima.  Conseguiu uma moto para ir com o Fabio pegar o carro, enquanto descansamos.


Enfim, o Triângulo dos Kalungas passou a ser uma realidade para nós. Em cinco dias, percorremos 95km de trilhas em paisagens fantásticas, com ótima companhia, conhecendo e interagindo com a cultura dos quilombolas.  Tem coisa melhor?
Elaborado por: Andrea Zimmermann


6 comentários:

  1. Parabéns gente! Muito bacana a disposição para 95 km de caminhada, a interação com os quilombolas e as belas paisagens! Um dia eu e a Marina ainda iremos fazer uma aventura dessas com vcs!
    Abraços Gustavo

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  2. Finalmente um sonho realizado. Eu já fiz vários "pedaços" do Triangulo, mas me falta fazer o roteiro completo.
    Parabéns, equipe guerreira!

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  3. Pena que minha agenda nunca combina com a de vocês....mas ainda vou encarar estas roubadas... muito legal o relato.
    Abraço, Ernesto

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  4. Parabéns, amigos, essa trilha já era praticamente uma lenda. Deve ter sido maravilhoso!
    Beijos

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  5. Um dia vou fazer esse percurso completo. Por enquanto vou treinando.Parabéns aos guerreiros.

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  6. é... eu fico só nos parabéns a todos e na inveja... não vou conseguir arredar o pé da minha mesa, ainda, por um longo tempo... pelo menos vocês me animam e me mostram que ainda há vida do lado de fora!!! amo todos vocês! Beijo Déia, TiFa, Alden e Ticiana.
    Abraços,
    Fabrício Ferreira.

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